Neste estudo convido-lhes a buscar a verdade
acerca da moral e seu uso. Muitas perguntas serão aqui levantadas, porém,
algumas ficarão sem resposta.
Não ambiciono definir tudo aquilo que toca a cosmologia da moral, mas, a saber, os alicerces que nos permitirão estudar o tema.
Não ambiciono definir tudo aquilo que toca a cosmologia da moral, mas, a saber, os alicerces que nos permitirão estudar o tema.
O campo filosófico que debate acerca dos
domínios do “certo” e do ”errado” é, assim chamado, a Ética. Invariavelmente
falando, a Ética trata destes temas no tocante à conduta humana, no caso que
discutiremos em particular, do indivíduo para com seus pares. Parafraseando o
filósofo bretão G. E. Moore em uma tradução livre: “Essa discussão da conduta
humana é, de fato, aquela com a qual esta de nome Ética está mais intimamente
ligada.”.
O problema filosófico comumente usado como
empecilho para análises éticas é a possibilidade, ou a negativa da mesma, de se
afirmar ou não se há algo “certo” ou ‘errado’. Típico sofisma sobre a pluralidade perspectiva, com a qual todas as coisas
são passíveis de relativização e a partir da qual, todas as coisas podem ser ou
não, para este ou para aquele, “certas” ou ”erradas”. Este estudo mostrará que
a subjetividade e contextualização podem, e de fato o são, usadas em
julgamentos Éticos, entretanto, sem invalidar a noção e a realidade da verdade.
Para a elucidação da questão primeira, isto é, aquela que nos permitirá saber se é ou não possível afirmar verdadeiramente a respeito de algo, usaremos aqui como premissa o pináculo do pensamento Cartesiano.
Para a elucidação da questão primeira, isto é, aquela que nos permitirá saber se é ou não possível afirmar verdadeiramente a respeito de algo, usaremos aqui como premissa o pináculo do pensamento Cartesiano.
Quando Descartes
afirma “Penso logo existo”, ele sutilmente nos revela a indubitável existência
da verdade. Muitos atacam futilmente este argumento, afirmando que diversas
coisas existem e não pensam. A premissa cartesiana de modo algum afirma que
tudo aquilo que existe pensa, entretanto, porém não obstante, que é impossível
imaginar algo do mundo natural que pense e não exista. Pensar e inexistir,
simultaneamente, é absolutamente impossível, ao menos no tocante dos limites da
concepção humana. Dessa forma, quando a
resposta à pergunta “algo existe?” é respondida com “sim” apenas uma das
respostas possíveis é verdadeira, conclusivamente expondo as demais como
“falsas” ou, ainda no mesmo sentido, “erradas”.
Doravante a única opção que nos resta é
encarar a existência inegável e factual da verdade, na tentativa de
encontrarmos as repostas almejadas.
1.
Assumindo que é possível afirmar que algo é verdadeiro ou, consequentemente, que é possível afirmar que algo é correto, investiguemos então como se dá esta análise para com o indivíduo.
Tudo aquilo que é classificado, o é em um contexto. A normalidade de um comportamento ou atitude, por exemplo, é assim chamada normal, a partir da observação da frequência em que o comportamento ou atitude em questão ocorre num determinado contexto social. Não se pode afirmar que “O casamento de um homem de quarenta anos com uma menina de doze é anormal.”. Este pode não ser normal, ou seja, habitual, no ocidente, sendo-o, entretanto em determinadas regiões do assim chamado oriente, de maioria muçulmana.
Tal matrimônio seria considerado imoral em determinados grupos sociais, não sendo noutros. É interessante constatar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) não possui uma definição para saúde mental, devido à multiplicidade de conceitos e diferenças culturais como a supracitada. Aquilo que é considerado são e moralmente correto num lugar pode não o ser alhures, chegando a ser contra a lei. Como então não incorrer em sofismas e afirmar algo acerca do normal e do moral com propriedade e sabedoria?
Obsevemos o modo com o qual a humanidade lida com sua história e passado. Em geral, estudamos nossa história para “aprendermos com os erros do passado”, de modo a não repeti-los e “entender como os fatos se dão”, para através da compreensão de mecanismos sociais possamos produzir os resultados desejados com mais eficiência, escrevendo nossa história de encontro à evolução e maior bem estar da espécie. Hábitos estes, muito saudáveis e racionais. Porém, muito negligenciamos tal exercício, no momento de aplicarmos tais análises e conhecimento em nosso agora, no processo evolutivo em que nos encontramos atualmente para construirmos o futuro, nosso eterno legado imortal. A evolução tem se dado, e assim prossegue, em diversas áreas da vida humana, sejam em tecnologia e ciência ou em aspectos sociais.
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| Inquisition |
Se prestarmos real atenção nas mudanças que configuram a sociedade contemporânea, observaremos que, inegavelmente, as novas tendências convergem para a virtual extinção de fronteiras entre povos e microcosmos sociais. O crescente número de organizações internacionais, reguladoras e censoras que visam estabelecer metas e padrões globais de comportamento, direitos humanos e afins, são claros indicadores de que a humanidade caminha para uma unificação de valores e comportamento. O atual panorama econômico mundial, quando comparado a um passado recente, realça exponencialmente que, independentemente da cultura particular de cada povo ou nação, a interdependência dos diversos Estados reflete o modo como somos influenciados de maneira direta por tudo aquilo que é decidido e se dá, em qualquer Estado. Isso independe da distancia entre os mesmos ou suas diferenças culturais.
Evitemos, doravante, negligenciar o processo evolutivo da espécie e passemos a expandir nossos horizontes intelectuais além das delimitações geográficas e contemplemos o mundo como a grande comunidade humana, que de fato, o é. Dessa forma avaliaremos, o que quer que seja, de acordo com o que vai de encontro ao bem estar geral do ser humano, relevando as discrepâncias culturais apenas quando absolutamente necessário.
2.
Tudo aquilo que é classificado de algum modo, o é por uma convenção. Habitualmente, um padrão é convencionado através da percepção do comportamento majoritário ou é imposto, supostamente, para educar um coletivo social a comportar-se de maneira mais conveniente, saudável ou apropriada para a vida em grupo. A esmagadora maioria daquilo que afirmamos está, sem que percebamos, submetida às convenções estabelecidas dentro do contexto no qual, aquele que afirma, está contido.
Quando um brasileiro julga ou afirma, acerca do quão bem um nativo indiano se veste, certamente o faz a partir de parâmetros diferentes dos usados por um nativo natural daquela região. Tal diferença e exemplo podem facilmente nos conduzir a um pensamento simplista, onde todas as coisas são passíveis de relativização; dando a todas as coisas o mesmo peso comparativo dos padrões estéticos ou simples código de vestimenta. Ledo engano.
Como afirmei anteriormente, devemos sempre considerar o que é relevante, tendo sempre o bem estar geral como alicerce de nossas considerações e parâmetros.
Não devemos lidar com o casamento de uma criança, que não atravessou a puberdade, com um homem de quarenta anos com a mesma liberdade e tolerância perspectiva com que observamos as variáveis de padrões estéticos. Muitos o fazemos sob o pretexto de salvaguardarmos, confortavelmente, a nós e nossos comportamentos sob uma moral maleável.
É bem sabido por especialistas ao redor do mundo, como observável na legislação de diversos países, que uma criança pode ser física, porém não psicologicamente preparada para a relação sexual, em outras palavras, para consumar o matrimônio. Ignorar esse fato em favor da cultura de um povo é absolutamente irracional e, portanto, inumano. Comportamento tal, temos para com os cães. Observamos seus primitivos instintos sexuais, mas, toleramos quando tentam copular com uma vassoura. Diferentemente da criança, a vassoura não está sujeita a lesões psicológicas.
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| Afraid of our past. |
Tal tolerância é óbvio indicador de nosso estado ébrio, devido a traumas provocados pela intolerância humana num passado recente. Há uma ideia errônea, amplamente presente no subconsciente coletivo ocidental, de que tudo deve ser aceito e todas as diferenças toleradas. Indubitavelmente a diversidade e a liberdade alcançadas por grande parte do ocidente trouxeram consigo melhorias inomináveis, especialmente no tocante aos direitos das mulheres, que foram apreendidas à custa de muitos erros e sofrimento. A diferença categórica, entre o veneno e o antídoto, está em sua dosagem. Respeito tem de ser dado e compreensão utilizada, desde que o sejam feitas em nome de um bem maior, não como simples supressor de inconvenientes.
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| Marriage between adults and children in palestine. |
Ninguém quer de fato expor-se para defender uma “bandeira que não é sua” ou combater algo “que não lhe afeta”, afinal não somos pagos para isso e seria demasiado desconfortável perceber que não somos ilhas e deveras deselegante fazer semelhantes críticas...
3.
“Só há um bem, conhecimento, e um mal, ignorância.” (Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres- Diógenes Laércio)
Muitas pessoas tomam decisões e tem atitudes condizentes com seus desejos e objetivos, entretanto, nutrem a expectativa de que os demais ajam diferentemente e levem as expectativas e bem estar daqueles em consideração, ainda que os próprios não o façam.
Tais expectativas são infundadas, uma vez que, independentemente da postura preocupada e concernida do indivíduo em praticar o bem, o comportamento da maioria segue em direção da satisfação imediata de seus desejos a despeito da maneira como essa busca vem a reverberar nessa coletividade, ou seja, as pessoas geralmente optam por se comportar como indivíduos que se preocupam unicamente consigo, esperando que as demais pessoas que compõe seu ambiente ajam em nome de um bem comum nas quais aquelas estão inseridas. Isso se torna claro nos momentos em que protestamos quanto à rudeza alheia, sendo nós mesmos rudes ou quando recriminamos a hipocrisia alheia e somos nós hipócritas.
Cada indivíduo na sociedade contemporânea está, necessariamente, em contato direto e intrínseco com seus pares. O indivíduo pode comportar-se como uma ilha, portando-se ao seu bel prazer, como quem não tem contato ou independe de seus pares, mas não de fato sê-lo.
Em um mundo globalizado, onde mesmo as diferentes nações necessitam comunicar-se e manter laços entre si, seria infantil acreditar em um pensamento egoísta e/ou individualista. Trabalhar, estudar, recorrer a um médico, obter informações... Nada, ainda que virtualmente falando, pode ser feito só. Alguém tem que, necessariamente, ter disponibilizado o serviço ou informação desejada a aquele que busca para que ele desenvolva-se no que quer que seja.
O fato de um indivíduo ou grupo ter disponibilizado algo, ainda que indiretamente, oferece uma gama de possibilidades de escolhas a cada indivíduo que o cerca, sabendo ele ou não, gerando um mais amplo leque de opções para aqueles que o cercam.
Um empresário que converte parte de seus impostos em incentivos educacionais ajuda a criar escolas que por sua vez, ajudam cidadãos a escolher entre o crime e a educação. Pessoas estas que, tendo escolhido a escola, podem transformar-se em advogados que futuramente defenderão ou acusarão aqueles que optaram pelo crime. O professor é um claro exemplo; segundo Henry Adams "Um professor sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina".
Uma criança, do sexo masculino, vítima de estupro, necessariamente desenvolverá uma psicopatologia que o levará a compulsão da reprodução e exteriorização da agressão sofrida na infância, quando atingir a maturidade. Acredito que todos podem imaginar as diferenças entre a escolha de buscar tratamento adequado ou dar vazão a compulsão... Estes são exemplos bastante óbvios da relevância de uma atitude individual e seus impactos no aspecto coletivo.
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| Island man |
O grande problema jaz na incompreensão, por parte das massas, da inegável e intransponível conexão e influência direta existente entre as atitudes e posturas de um único indivíduo para com a sociedade ao seu redor.
Cada pequena decisão e discreta atitude influenciam direta ou indiretamente o ambiente com o qual o indivíduo está relacionado, ajudando a moldar este ambiente. Isso faz deste meio algo caracterizado pelas ações dos indivíduos que o integram, fruto direto de suas atitudes, caráter, vida e tudo aquilo que toca sua, assim chamada, individualidade.
As gerações futuras, certamente, serão muito mais afetas do que nós mesmos por nossas decisões, uma vez que, muitas das ações individuais tomadas no decorrer desta geração possuem consequências a serem observadas unicamente no longo-prazo.
Considerando que a expectativa de vida vem aumentando significativamente, geração após geração, a futura prole de nossos contemporâneos conviverá por muito mais tempo com as consequências de nossos atos do que nós mesmos, quiçá, mais com as dos próprios atos. Assim como nós que, ainda hoje, somos diretamente afetados pelo pensamento socrático e seus inúmeros frutos.
Devemos então, primeiramente, atentar para as atitudes destes indivíduos cuja “capacidade primeira” de nos prejudicar é inigualável, estes que detém o poder de determinar o potencial salutar de nossas crianças, estes indivíduos que compõe a unidade atômica da estrutura elementar da sociedade, que é a família; estes que decide individualmente o destino coletivo: Nós.
Comportar-se ignorando o bem comum é pouco inteligente, uma vez que partilhar ou dar suporte a um comportamento nocivo é também dar suporte às mesmas características nocivas da qual o indivíduo está cercado, e das quais sofrerá todas as consequências. É ainda menos inteligente contribuir para a regra e esperar ser exceção à mesma.
Uma vez que se vive em uma sociedade, vive-se numa relação de interdependência com a mesma. É preciso, por egoísmo, ser altruísta, para, através da coletividade na qual o indivíduo está inserido, atingir as satisfações pessoais almejadas por estes. Somente através da interação com essa coletividade pode-se satisfazer as próprias expectativas em relação a ela, uma vez que é esse contexto no qual o indivíduo está inserido que dita, em grande parte, tais necessidades e fornece ou não as ferramentas para a satisfação das mesmas.
Considerar o bem estar social, comum aos vários nichos e contextos no qual o indivíduo está inserido, é a melhor, senão única, maneira de se viver dentro de uma sociedade. Tendo-se consciência da real vitalidade da influência exercida nela por cada indivíduo que a integra e, portando-se como tal, agindo de forma a enaltecê-la, vive-se uma vida onde a virtude vivida é o mundo erigido.
Praticar o mal é ignorar o bem, ignorar o bem é desconhecê-lo.
4.
Sexo e moral
Baseados no estudo “ideação suicida em prostitutas de rua” (Dr. José Alexandre Cordeiro Teixeira) podemos perceber, ainda que não nos seja possível precisar a ordem dos fatores, que há uma estreita conexão entre sexo, moral, auto-estima e saúde mental.
Observamos que as prostitutas possuem alto índice de depressão e aborto, sofrendo todo o tipo de abuso e violência, estando postas a todo o tipo de intempéries climáticas, doenças venéreas ou força bruta residente no comportamento de sua clientela. Questionemo-nos, então, o motivo pelo qual estes agressores doentes escolhem as prostitutas para descarregar a violência de sua insanidade.
Seria tolo alegar que estas estão mais desprotegidas ou sujeitas que as outras mulheres, pois, na grande maioria das vezes isso consiste numa inverdade, estando elas munidas da “proteção” e vigilância de cafetões cuja fama violenta os precede (sem nos esquecer de que, sendo ou não profissionais do sexo, cidadãos são amparados pela lei contra a violência). Na realidade existe uma associação implícita entre o sexo e a índole, ou caráter do praticante. Os agressores sentem-se no direito de dar vazão às suas frustrações nestas mulheres uma vez que elas possuem um comportamento tido como socialmente indesejável e, portanto, não fazem diferença, importam ou são bem quistas por nenhum grupo social na maioria das sociedades através do mundo.
A expectativa de que a mulher tenha uma vida sexual monogâmica origina-se, como dito no livro “Totem e Tabu” (Freud, S.), nas tribos selvagens de um modo em geral. O autor nos descreve que foram observados problemas congênitos, frutos de relações sexuais incestuosas. Com a percepção deste fato, os anciões, e portanto, líderes de suas tribos, convencionaram a instituição de unidades familiares dentro de suas sociedades tribais através de totens, caracterizando os indivíduos sob a representação totêmica que simbolizava o laço sanguíneo e familiar. Isso foi a pedra fundamental do que hoje conhecemos como família. Uma vez que, através do totem estabelecido, era dada a qualificação e definição convencionada que um determinado grupo de indivíduos criava então, a partir da geração de prole, laços de responsabilidade para consigo e para com sua prole (sendo identificados pelo totem, que pode ser comparado ao que hoje é definido pelo sobrenome familiar), tinham definidos para si as convenções de impedimentos que possuímos, nós, até os dias de hoje como incesto, fidelidade conjugal, responsabilidade da educação da prole e inserção da mesma na sociedade.
Neste mesmo contexto com a definição de família, surge a necessidade de estabelecer novos limites e padrões de comportamento. A fim de perpetuar a nova estrutura familiar criada e definida através do totem, surge a necessidade, antes inexistente, de ter-se o conhecimento preciso da ascendência da prole de modo a evitar a quebra das convenções estabelecidas. Para tanto fora estabelecida a relação monogâmica que possibilitara, assumindo-se que haja fidelidade conjugal, precisar quem são os progenitores da prole.
Vemos então que a expectativa social por um comportamento sexual feminino, monogâmico, ou ao menos, minimamente movimentado possível; por uma questão “territorial” e pela segurança que subliminarmente esse comportamento passa ao macho e à estrutura necessária ao meio, em relação ao conhecimento e certeza de sua prole.
Em diversas culturas poligâmicas, a expectativa de que a mulher relacione-se sexualmente apenas com um único parceiro põe, temporariamente, este argumento em dúvida. Países de caráter islâmico, por exemplo, são o caso. Em verdade essa expectativa machista deve-se à descartabilidade do macho como explicarei posteriormente.
5.
A Mulher Como Pedra Angular
"A importância desse fator da supervalorização sexual pode ser estudada em melhores condições no homem, cuja vida amorosa é a única a ter-se tornado acessível à investigação, enquanto a da mulher, em parte por causa da atrofia cultural, em parte por sua discrição e insinceridade convencionais, permanece envolta numa obscuridade ainda impenetrável"- Freud, S Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.
Nos estudos Freudianos sobre a sexualidade humana podemos observar como, mesmo na psicanálise, onde a mente humana é o principal objeto de estudos passível de compreensão, pouco sabia-se sobre a sexualidade feminina; suas características e aspirações. Freud afirma que pouco se sabe das mulheres, uma vez que estas não realmente sentem prazer, conjecturam-se sobre e normalmente abstém-se da expressão daquilo sobre o que isso lhe parece.
Trata-se de uma clara expressão da perspectiva nebulosa e despreocupada com que os especialistas e maiores interessados, tinham para com as mulheres.
Sendo este o obtuso e desinteressado horizonte da elite intelectual de outrora e observando a falta de direitos, legislação específica a seu respeito, poder de voto e voz ativa das mulheres, em maior ou menor grau através dos tempos, facilmente concluiremos a nulidade do respeito e representatividades atribuídos a elas pela sociedade em geral.
A invenção da pílula anticoncepcional trouxe à luz uma série de questões antes ignoradas, as quais dizem respeito à individualidade feminina e ao seu universo,
O fato de a mulher ter em suas mãos, a partir desse momento, o óbvio poder de, por sua escolha manter relações sexuais sem necessariamente engravidar e fazê-lo então por prazer, revolucionou seu universo de possibilidades.
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| Yes we can! |
A relevância desse poder de escolha trouxe-lhes, metaforicamente, o falo masculino do qual tanto careciam. Depois de séculos sendo submetidas rigorosamente pelo jugo masculino, haviam agora libertado-se e possuíam também aquele poder opressor.
A relevância deste poder trouxe consigo uma mudança comportamental feminina, tirando-as do limbo sensorial que até então haviam sido mantidas prisioneiras.
A pílula anticoncepcional havia descortinado a possibilidade de escolha da mulher. Naquele ponto, tornara-se possível para ela ter sexo por prazer sem a necessariedade do matrimônio. Isso possibilitou à descoberta de sua sexualidade, a potencialização de sua individualidade, a luta e conquista gradual de seus direitos e voz.
Hierarquias sociais derivadas de concepções de gênero começaram a cair. As fêmeas desse novo mundo galgavam seus direitos e conquistavam seu espaço nos meios acadêmicos e mercado de trabalho, adquiriram independência financeira, tornando-se um mercado consumidor de grande relevância à sustentabilidade social. Essas mudanças ocorreram no espaço de tempo de uma única geração, mas não sem deixar suas sérias conseqüências impressas.
A autonomia financeira que a mulher passara a ter libertara-a do jugo masculino e das necessidades passadas atreladas a esta, de modo que, a partir de então ela passara a não estar mais obrigada a atender expectativas sociais por sua sobrevivência. Havia agora como prover a si mesmas, aquilo que fora desejado sem depender de um homem, que costumara ocupar posição de total domínio e único provedor da estrutura familiar.
A tão esperada oportunidade de saborear esta liberdade, a maneira como a sede teve de ser saciada, gerou um comportamento muito forte deste papel que antes pertencera somente ao homem. Aqueles atributos ou características que costumavam ser consideradas femininas, haviam tornado-se símbolos de sua antiga condição e passaram então a ser substituídos, em maior ou menor grau, pelos valores outrora repudiados nos homens, assim como todas as suas antigas funções sociais.
Algo que também estava subentendido nestas antigas funções era a educação da prole. Desde as tribos européias e americanas até os dias de hoje as mulheres estiveram encarregadas da educação, dos filhos do casal, que juntamente com estes constituem a unidade social fundamental: a família.
Nelas reside, portanto, a formação das gerações futuras, tanto como em seus óvulos a determinação da quantidade de “crias por ninhada”. O número de soldados a serviço da nação que podem vir a defender reside, também, na fertilidade de seus úteros e na saúde de seus seios.
O hábito e treino milenar, culturalmente falando, da mulher estão sendo substituídos por machos sem o devido preparo, estes não são educados para isso, não há uma expectativa social sobre ele, não há preocupação ou cultura a este respeito que o prepare para esta tarefa.
Existe uma grande confusão em andamento, onde a sociedade contemporânea abre mão, desnecessariamente, daquilo que houvera conquistado para passar por cima de antigos dogmas ao invés de simplesmente assimilar a melhoria sem preterir suas raízes benignas.
Começar a somar não implica em parar de multiplicar.
O sofrimento e repressão a elas impostos no passado, em muitos casos ainda hoje, tem sim de ser compensados e remediados, não implicando isso, porém, na subtração da sua importância e status de pedra angular da estrutura social que possuímos. Não implica na retirada dos machos das linhas de frente, pois, a exposição física e psicológica destes deriva não de sua superioridade, como muitos gostariam de acreditar, mas, de sua descartabilidade.
O conceito da descartabilidade masculina deriva das mesmas culturas tribais que convencionaram a estrutura familiar como nós a conhecemos. Aquelas que, anteriormente, possuíam estruturas poligâmicas, e que, em sua maioria possuem histórias forjadas ao calor de guerras diversas, onde a população masculina estivera sempre sujeita à redução devido às suas numerosas baixas em batalha. Nas mulheres destes contextos sociais, descansa o futuro da sociedade na qual estão contidas, pois, a fertilidade de seus úteros encarregar-se-á de reabastecer-la dos machos guerreiros, protetores e provedores necessários para a manutenção e propagação da sociedade em questão.
Um único macho pode, obviamente, engravidar simultaneamente dez fêmeas distintas, ao contrário ,entretanto, é improvável à fêmea engravidar de vários machos simultaneamente. Fato este que enaltece e trás para a luz a relevância fundamental, para a propagação saudável da sociedade, do número de mulheres em detrimento ao de homens, sendo deles a única e igualmente fundamental função de provê-las e mantê-las seguras, suprindo suas necessidades para que elas possam preencher sua função social de educar e adequar à prole á sociedade a qual integra.
* NA- O Falo entende-se aqui, segundo Freud, como a projeção de um poder instaurado no sujeito detentor do mesmo. Utiliza-se o falo, pois alude-se que já que o homem possui algo que a mulher não possui, este seria detentor do poder(a grosso modo). Ao mesmo tempo em que Freud coloca que o homem é "dono" do falo, cria-se aqui o imperativo masculino do medo de perder-lo, pois ao observar que a mulher não possui algo entre as pernas, ao voltar-se para si, imagina ser possível alguém retirar esse algo que ele possui. Por outro lado, a mulher, ao observar que ela já perdeu algo que nunca teve, ela fica constantemente a procura de algo que nunca esteve lá, fazendo com que a fascinação e almejo pelo falo se torne um imperativo feminino. Levando isso em conta observa-se como Freud é calcado por um pensamento machista e narcisista de sua época, pois a mulher passa a ser apenas um homem sem falo, sendo desprezível por não possuir aquilo que ele tem, e ainda se mostra como uma ameaça de tomar aquilo que possui.











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